Surgimento
da Filosofia Ocidental
·
O nascimento da
Filosofia
Apesar de podermos utilizar a palavra
filosofia de um modo amplo, a filosofia propriamente dita nasceu na Grécia
Antiga, no século VI a.C. A origem da palavra vem do grego philosophia, cujo
significado é “amigo do saber” (philo = amigo e sophia = saber).
Como já vimos, a filosofia tem o uso
da razão como instrumento para obter o conhecimento (razão, em grego, é logos).
A característica principal do uso da razão pelos filósofos é o fato de que ela
é capaz de esclarecer de maneira sistematizada as questões a serem
solucionadas. Mas por que a filosofia surgiu na Grécia? Uma resposta possível é
a de que os gregos tinham uma relação muito “pessoal” com seus deuses, enquanto
esses deuses eram a reprodução da figura humana, ou seja, continham as virtudes
e os defeitos dos homens. Perceba que sua própria mitologia aproximava os
gregos de uma maior preocupação com a figura humana. Essa centralização no humano
fez com que, lentamente, a mitologia fosse dando lugar a um pensamento mais
focado no logos, isto é, na razão.
Em outras palavras: alguns gregos, por
volta do século VI a.C., sentiram a necessidade de encontrar algo mais concreto
para explicar o mundo que os cercava, pois já não lhes satisfazia as
explicações fantasiosas dos mitos. Era o ser humano preocupado em conhecer;
começava assim uma longa jornada de desenvolvimento da razão, que se estende
até os nossos dias.
Além dessa necessidade de buscar
explicações racionais, condições históricas, políticas, econômicas e sociais
possibilitaram o surgimento da Filosofia.
Vejamos algumas
delas:
a)
Invenção
do calendário: O calendário apresentou uma nova forma de calcular o tempo e as
horas, a possibilidade de contar os dias, os meses, e, desse modo, prever as
épocas de chuva, de inverno, de seca e de calor.
b)
Viagens marítimas: Os gregos, ao longo de sua
história, caracterizaram-se como uma civilização voltada para as navegações e para os negócios. Como grandes
comerciantes e conquistadores, os gregos estiveram em contato com os mais
variados povos e culturas. Isso proporcionou a busca por informações capazes de
explicar a origem do mundo e os diferentes tipos de cultura, costumes e
civilizações que nele existem. Por isso, embora costume-se afirmar que a
Filosofia nasceu na Grécia, é importante ressaltar a contribuição cultural dos
povos conquistados pelos gregos.
c)
Surgimento
da vida urbana: A atividade comercial e as navegações contribuíram para o
surgimento de cidades e para o crescimento dos centros urbanos já existentes. O
comércio permitiu a circulação de moedas, de mercadorias, de pessoas e de
ideias. As moedas trouxeram consigo o valor de troca dos objetos, ou seja, cada
objeto, dependendo da utilidade, da quantidade e do material com que foi
produzido, possui uma importância que corresponde ao seu valor de troca. Em consequência
disso, o cálculo foi aperfeiçoado.
d)
Aperfeiçoamento
da escrita alfabética: Todas as informações e descobertas passaram a ser
registradas por escrito e esses registros,
posteriormente, comparados a outros estudos. O conhecimento passou a ser
armazenado, aperfeiçoado e renovado.
e)
Invenção
da política: Uma das características da política é conduzir o indivíduo para o
debate, contribuindo para as decisões que afetarão todo o grupo. Um político
deve planejar seu discurso sob uma linha objetiva e racional de pensamento.
Além disso, suas ideias têm de ser expressas de maneira clara, para que todos o
entendam e se convençam de que suas propostas são as melhores para o grupo.
Assim como a política, a filosofia exige a organização do pensamento e a
objetividade das palavras. Na Grécia antiga, filosofia e política eram
inseparáveis.
·
Os primeiros
filósofos gregos
Os primeiros filósofos começaram a se
destacar na Grécia no século VI a.C. (600-501 a.C.). Sua preocupação essencial
era explicar a origem e o funcionamento do mundo exterior, por isso são
conhecidos como “filósofos da natureza”, pois suas inquietações iam mais na
direção da compreensão e da explicação dos fenômenos da natureza do que da
essência humana. O primeiro filósofo grego que se concentrou na análise do ser
humano foi Sócrates, já no século V a.C. Em função disso, todos os filósofos
gregos anteriores a ele são incluídos no grupo dos pré-socráticos, não apenas
por estarem situados cronologicamente antes de Sócrates, mas por terem uma
preocupação em comum: a natureza (e não o homem).
Tales de Mileto é considerado o
primeiro filósofo pré-socrático e, portanto, o primeiro filósofo grego. Ele
pertenceu ao grupo dos filósofos jônicos, assim como Anaximandro, Anaxímenes,
Anaxágoras, Empédocles e Heráclito. Outro pré-socrático de destaque foi
Pitágoras, pertencente à escola itálica. Mas ainda devemos destacar os
representantes da escola eleática, como Xenófanes, Parmênides e Zenão, além dos
integrantes da escola atomista, Leucipo e Demócrito.
Explicar a
origem do mundo de forma racional é a função da cosmologia (“estudo do mundo”),
que substituiu a cosmogonia (explicação do mundo por meio dos mitos). Para os
filósofos pré-socráticos, a grande questão era saber como por meio do caos (desordem)
foi possível a criação do cosmos (mundo). Esses pensadores acreditavam que o princípio
(em grego, arché) de todas as coisas seria a razão explicativa para a
ocorrência dessa transformação. A água, o ar, o átomo ou a combinação de água,
terra, fogo e ar foram algumas das respostas dadas por esses filósofos. Esses
elementos seriam a manifestação física da arché, ou seja, a physis (forma).
Essa teoria se contrapunha às explicações mitológicas, que se baseavam na ideia
da criação do mundo a partir do nada. Porém, é importante ressaltar que a
passagem do pensamento mítico para o racional-lógico se deu de maneira lenta,
pois é possível encontrar resquícios de mitologia nos filósofos pré-socráticos.
·
Heráclito de
Éfeso e Parmênides de Eleia
Para alguns filósofos pré-socráticos,
uma questão ainda persistia: como um princípio físico podia dar origem a
diversas coisas? A explicação para essa pergunta está na kinesis, isto é, no
“movimento” ou “transformação”. É o que chamamos de devir. E os filósofos que
se destacaram para ilustrar essa explicação foram Heráclito, da cidade de
Éfeso, na Jônia, e Parmênides, natural de
Eleia, hoje
território italiano.
Heráclito (540 a 470 a.C.,
aproximadamente) buscava entender a multiplicidade das formas reais e, para
isso, entendia que o movimento é algo constante, impulsionado pela luta de
forças contrárias (por exemplo, o bem e o mal, o quente e o frio, a ordem e a
desordem); tudo se transforma, mesmo que não seja observável pelos nossos
sentidos, que seriam limitados para verificar o movimento que possibilita a
existência. Como afirmou: “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio”, pois
esse rio muda pelo movimento de suas águas e o homem também se transforma pelas
mudanças, não só orgânicas como psicológicas. Resumindo:
“tudo flui”.
Parmênides
(530 a 460 a.C., aproximadamente), crítico de Heráclito, afirmava que seria
impossível acreditar que o
movimento fosse
uma constante, pois uma coisa ou um ser não podem “ser” e “não-ser” ao mesmo
tempo. Para questionar o exemplo do rio, Parmênides concluiu que o movimento
não pode ser desprezado e tampouco superestimado, pois o movimento só existe
para o mundo sensível, ou para os nossos sentidos, enquanto para o mundo
inteligível, ou seja, para o mundo das ideias (a razão), o movimento é
ilusório, pois todo ser tem sua identidade que não pode ser contrafeita. Resumindo:
“as coisas que existem fora de mim são idênticas ao meu pensamento, e o que eu
não conseguir pensar não pode ser realidade”.
Heráclito e Parmênides inauguraram
uma discussão que passou a ser um dos grandes desafios para os filósofos gregos
que viveram depois deles, em especial, Platão e Aristóteles. O conhecimento
verdadeiro passa pelos sentidos para chegar à razão ou só pode ser formulado
diretamente pela razão? O que vemos, tocamos e sentimos, de uma maneira geral,
são apenas ilusões? Se a razão por si só é a fonte de toda sabedoria, isso quer
dizer que já nascemos sabendo, ou seja, que o conhecimento é inato? As respostas
possíveis a essas questões orientarão praticamente toda a história do
pensamento filosófico, chegando, inclusive, até nossos dias.
Atividade
1.
Indique
o significado etimológico do termo filosofia.
2.
Explique a importância e influência da
mitologia para o surgimento da filosofia.
3.
Indique e explique os fatores que levaram ao
surgimento da filosofia.
4.
Indique
e explique a preocupação essencial dos filósofos pré-socráticos.
5.
Explique
as principais ideias de Heráclito.
6.
Explique
as principais ideias de Parmênides.
7.
Diferencie o pensamento de Heráclito e
Parmênides a partir de um exemplo.
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